Para consultor, subsídios da União são “cortesia” com dinheiro dos municípios.

por Grupo Editores Blog.

 

Os municípios reclamam dos efeitos, nos orçamentos locais, da adoção de subsídios no âmbito da União e dos estados. Segundo o consultor de finanças Eudes Sippel, representante da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) em debate na Câmara dos Deputados, os incentivos a microempreendedores, por exemplo, afetaram – e muito – as prefeituras.

 

“Uma microempresa com faturamento mensal de R$ 5 mil pagava em tributos municipais R$ 250. Em 2007, entrou no Simples Nacional e passou a pagar R$ 100. Mas, 12 meses depois, o dono virou microempreendedor individual (MEI) e passou a pagar R$ 5 às prefeituras.” Foi assim que Sippel resumiu os efeitos, na prática, de mudanças nas regras para empresas no País.

 

O Simples Nacional é atualmente o principal benefício tributário do País. Consumiu R$ 74,8 bilhões no ano passado, quase um quarto (23,8%) de todos os subsídios em vigor. O regime diferenciado envolve todos os entes federados e vários tributos – os federais IRPJ, PIS/Pasep/Cofins, IPI, CSLL e a contribuição previdenciária, principal foco no caso do MEI; o estadual ICMS; e o municipal ISS.

 

Para Sippel, nunca foi feita uma análise detalhada sobre o impacto do Simples Nacional nas finanças municipais. Segundo ele, é atualmente o principal gasto tributário dos municípios, superando até mesmo as isenções fiscais no IPTU, outro imposto de nível apenas local. “Não se trata de demonizar o Simples Nacional, mas de fazer uma avaliação melhor”, afirmou.

 

“No papel, parecia tudo ótimo, juntar vários impostos em um boleto só”, continuou. “Só que a única obrigação das pessoas, que era pagar, não acontece. E depois ainda aparecem os Refis [programas de refinanciamento das dívidas tributárias]”, disse o representante da CNM.

 

Há necessidade de que o MEI seja optante do Simples Nacional. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que, além da alta inadimplência nesse grupo, o programa desviou-se do objetivo inicial – inclusão previdenciária, até 95,7% subsidiada –, já que houve expansão em direção a potenciais beneficiários de nível social e econômico muito elevado.

 

“A motivação para adesão ao MEI guarda menos relação com a Previdência e mais relação com as vantagens que a formalização do empreendimento pode proporcionar”, diz o texto do Ipea. “Há sempre o desafio de garantir que apenas participem as pessoas que realmente necessitem e que os subsídios concedidos cheguem aos indivíduos (sempre que possível) na medida certa.”

 

Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), “a criação do microempreendedor individual parece ser um sucesso”. Dados de 2015 indicam que 66% tiveram aumento nas vendas, e 72% conseguiram condições melhores junto a fornecedores. Do total, 32% optaram pelo MEI devido à inclusão previdenciária; e 63% visavam resultados da formalização.

 

Chapéu alheio Sippel lembrou ainda que, após a crise internacional de 2008, o governo federal adotou medidas de estímulo à economia, como isenções de IPI. “Como o IPI e o IR formam a base do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), a conta foi repassada com a menor transferência de recursos da União”, reclamou. Para o deputado Alexis Fonteyne (Novo-SP), foi “cortesia com chapéu alheio”.

 

O representante da CNM afirmou que a Súmula Vinculante 30 do Supremo Tribunal Federal previa que, em caso de subsídios criados pela União ou pelos estados, deveria ser preservada a parcela que os municípios deveriam receber na forma de transferências. Mas essa súmula, oriunda de uma ação contra o governo de Santa Catarina após benefícios no ICMS, está suspensa para ajustes.

 

“No subsídio mal dado, quem sofre é a sociedade, já que a política pública não atinge o objetivo”, analisou Sippel. “É preciso transparência da parte do beneficiário, e não cabe subsídio para quem cresce acima do PIB”, continuou. Se houver reforma tributária, disse, os municípios não aceitarão impostos não compartilhados. “O legislador também é responsável, e deveria haver punibilidade.”

 

Atualmente, toda iniciativa legislativa que acarrete renúncia fiscal ou aumento de despesas deve ser acompanhada pela estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que entrar em vigor e nos dois seguintes. Na Câmara dos Deputados, essa análise é feita pela Comissão de Finanças e Tributação; no Executivo, cabe à Receita Federal acompanhar as propostas.

 

Fonte: O DOCUMENTO.

Você também pode se interessar por:

Deixar um Comentário