Um novo ciclo de expansão?

por Grupo Editores Blog.

 

Geralmente, ao fim de cada ano, a opinião pública fica atenta ao que os diferentes meios de comunicação destacam como as perspectivas econômicas mais prováveis para o ano seguinte. Dispõe-se, atualmente, de um amplo conjunto de roteiros metodológicos alternativos para a análise dos estados futuros de uma economia. Esses roteiros vão desde o tratamento do futuro como extrapolação do comportamento recente das variáveis econômicas até o tratamento do futuro como algo desconhecido (“cisnes negros”), que estaria além dos atuais níveis de conhecimento e da experiência de analistas.

 

As economias capitalistas ocidentais têm duas características básicas. De um lado, sofrem flutuações cíclicas persistentes, numa sequência quase interminável de elevações e quedas nas taxas de crescimento dos níveis de produção de curto prazo. E essas flutuações ao longo do ciclo econômico são tão mais intensas quanto maior for o grau de incertezas prevalecentes nas economias.

 

Por outro lado, esses ciclos ocorrem no contexto de uma tendência de crescimento econômico no longo prazo, o qual é quase sempre lento, mas recorrente. O crescimento econômico é, de fato, a característica mais marcante do capitalismo observada em séries históricas do PIB de diversos países. E esse crescimento tem se acelerado nas últimas décadas em muitas economias de mercado. Por exemplo: estudos recentes de história econômica mostram que o total de bens e serviços produzidos na ilha de Taiwan, nos anos 90, supera o total obtido no auge do Império Britânico, em torno de 1914, onde se dizia que “o sol nunca se punha”.

 

Assim, esse jogo de influências recíprocas, de ciclos econômicos instáveis por natureza e de uma tendência marcante de crescimento nas economias capitalistas, dificulta ao observador definir do que se trata quando uma economia, como a brasileira, retoma taxas positivas de expansão após um período de baixo crescimento e de ajustes fiscais e financeiros. Por exemplo: nos últimos cinco anos, os analistas iniciavam cada ano prevendo uma taxa de crescimento de 2,5% a 3%, que acabavam por ajustar para algo em torno de 1% ao final de cada ano.

 

Estaria se iniciando um novo ciclo de expansão econômica na economia brasileira? Um ciclo de expansão se caracteriza, em geral, por um período relativamente longo (em torno de uma década) de crescimento sustentado, com elevadas e generalizadas taxas de expansão global e setorial, o qual é precedido de um conjunto de reformas econômicas e institucionais que viabilizam a eliminação dos pontos de estrangulamento e de outros óbices à mobilização das potencialidades de desenvolvimento econômico e social.

 

Não seria um equívoco prever que o próximo biênio não vai se configurar como o início de um novo ciclo de expansão da nossa economia, a qual ainda poderá apresentar espasmos ocasionais de crescimento seguidos de eventuais instabilidades e volatilidades conjunturais, num contexto de reformas estruturais em processo de incubação e de tensas negociações políticas.

 

Em tempos de múltiplas incertezas, toda predição sobre o futuro da economia é um exercício que pode se tornar supérfluo. Daí o conselho de Peter Drucker: a melhor forma de prever o futuro é criá-lo

Autor: PAULO R. HADDAD.

Fonte: OTempo.

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