O WhatsApp está instalado em 99% dos aparelhos celulares no Brasil, segundo uma pesquisa de março de 2020. O número não é pouco. De acordo com dados de abril do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 182 milhões de brasileiros têm telefones móveis. O aparelho é o principal meio de acesso à internet no país, e o aplicativo de mensagens se tornou a principal fonte de informações da população, segundo um levantamento realizado em 2019 pelo Congresso.
Na pandemia, a ferramenta tem servido como um aliado no combate ao novo coronavírus. Cerca de 41% dos profissionais de saúde que integram as equipes de atenção primária do SUS (Sistema Único de Saúde) acompanham os pacientes pelo aplicativo, principalmente por meio de mensagens de textos enviadas a cada um ou dois dias. O uso do WhatsApp só fica atrás das ligações telefônicas, utilizadas em 78% dos monitoramentos de suspeitos ou doentes de covid-19.
Esse uso foi constatado por um estudo feito por pesquisadores da Fiocruz, USP, UFBA (Universidade Federal da Bahia) e Ufpel (Universidade Federal de Pelotas), cujos resultados foram divulgados em agosto. O trabalho foi realizado pela Rede de Pesquisa em Atenção Primária da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), com apoio da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde).
“É realmente uma inovação. Não é que ninguém [na área da saúde] se comunicasse com isso antes, mas agora ele está muito mais presente”, disse ao Nexo a pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Ligia Giovanella, uma das coordenadoras do estudo. Segundo ela, a utilização da ferramenta mostra que a atenção primária tem se reinventado durante a pandemia, mas ainda precisa ser fortalecida para poder exercer melhor seu papel.
As limitações da ferramenta
Com o objetivo de detectar os desafios dos profissionais que estão na linha de frente do combate à covid-19, os pesquisadores entrevistaram por meio de questionários online 2.566 profissionais de saúde e gestores em mil municípios do país, nos 27 estados brasileiros. O levantamento foi realizado entre 25 de maio e 30 de junho com enfermeiros, médicos, dentistas, agentes comunitários e técnicos e auxiliares de enfermagem, sendo que 83% estão ligados à Estratégia de Saúde da Família, programa do SUS criado no início dos anos 1990.
O uso de tecnologias de informação e comunicação, como WhatsApp e telefone, em teleconsultas e no monitoramento das pessoas foi relatado como essencial para o enfrentamento da pandemia. Mas a pesquisa aponta que as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) precisam fornecer melhores condições para que a ferramento seja usada de maneira eficaz. Para quase 60% dos entrevistados, a internet usada não era boa. Os piores resultados foram observados no Norte e no Nordeste.
A má qualidade do sinal de internet ajuda a explicar, por exemplo, que a forma mais comum de acompanhamento pelo WhatsApp acontece por meio de mensagens de textos. Vídeos e fotos para consultas, exames ou receitas médicas apareceram em menos de 16% das respostas.
72% dos profissionais de saúde consultados disseram usar o celular pessoal para contato com os usuários do SUS.
“A pandemia tem exigido novas formas de contato e comunicação com as UBSs, e os profissionais estão buscando formas de continuar o cuidado de seus pacientes, embora isso tenha que se expandir para todos os profissionais e todas as unidades básicas com a proteção individual e a formação”, afirmou a pesquisadora.
Apenas 21,7% dos profissionais de saúde ouvidos disseram considerar que todos os equipamentos de proteção individual, como luvas, máscaras, aventais e óculos estão disponíveis. Entre os gestores, quase 90% relataram dificuldades de comprar os itens de proteção.
34% dos profissionais disseram ter recebido capacitação sobre a covid-19 e sobre o uso dos equipamentos de proteção durante a pandemia.
92% das equipes de saúde disseram incentivar o isolamento social no contato com os pacientes.
Na tentativa de tentar melhorar o contato dos profissionais de saúde com os usuários do SUS para substituir o WhatsApp, o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde chegou a fechar uma parceria com o Zoom, um serviço de videoconferência. O programa seria disponibilizado para 40 mil unidades de saúde do Brasil para a realização de consultas e atendimentos virtuais. A iniciativa foi anunciada pela vice-presidente da instituição, Cristiane Martins Pantaleão, em um evento virtual da Abrasco, em 4 de agosto.
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