A AGENDA ESQUECIDA.

por Grupo Editores Blog.

Em meio a manifestações extremadas sem vitoriosos ou derrotados, eu, em busca de entender a situação pelo qual o país passa, retomo a eleição de 2014. Sim, eu sei que a Lava Jato tem sido tratada como a principal responsável pela crise instalada, mas a meu ver ela justifica apenas a articulação da elite política contra a presidência da república, que, por vontade ou incompetência não conseguiu conter o avanço das investigações. Entretanto, não vejo como fator principal para o respaldo popular.

A agenda de combate a corrupção pode ter sido a faísca para decepção de sua base e mobilização da oposição, mas a mudança da agenda aprovada pela população, acredito ter sido fator de maior influência, especialmente para sua base. Dilma Rousseff foi eleita com uma agenda desenvolvimentista que foi flexibilizada já no discurso da vitória. Essa já não era uma agenda da classe média alta e a presidente petista já tinha perdido grande parte do apoio da classe média durante seu mandato. Ao admitir a adoção de uma agenda similar ao candidato derrotado, Dilma pode ter perdido sua base de sustentação política.

Para aqueles que não acreditam na racionalidade do eleitor, em palavras mais simples uma coisa ficou clara. Enquanto Dilma prometia que o país poderia crescer através do consumo, ou seja, não haveria perda no poder de compra, especialmente da população mais pobre, Aécio apresentou que o ajuste fiscal deveria ser feito, o que ressoou ao ouvido do eleitor como tempos difíceis.

Esse argumento sim, ficou muito claro ao eleitor de Dilma que, justificado pela Lava Jato, foi às ruas decepcionado com o voto ou não se viu motivado a defender o mandato da presidenta. Dilma mentiu durante seu programa de governo? Acredito mais em um erro estratégico no início de seu mandato. Entretanto, permitir que esse erro ocorra e seja corrigida é a razão para que existam instituições, para que haja estabilidade política. É natural que um governante erre, mas não é natural que após um período eleitoral com todos os seus custos, se pague com o mandato.

Enquanto havia um objetivo único – queda da Dilma – a elite política estava coordenada e coesa. A falta de consenso para o pós-Dilma e sua resolução me parece o principal fator de instabilidade política. Enquanto parte da elite viu na queda da presidente a possibilidade de implantar mudanças na legislação trabalhista, previdenciária entre outros, outra parte da elite estava rachada com o interesse em comandar o país. PSDB “permitiu” a Temer o poder para que fizesse as reformas que asfaltassem seu futuro presidente da república a ser eleito em 2018. PMDB, ao sentir o “gostinho do poder” articula para ser protagonista.

Aos empresários – financiadores dos políticos – além de estarem vulneráveis com as investigações recentes, pouco importa quem esteja no poder, desde que alinhados com uma agenda desregulamentadora. Esses atores atuarão na zona cinzenta da política brasileira (devido a falta de regulamentação da atuação de grupos de pressão e a prática de anos no sistema político brasileiro) para defender a agenda proposta. Reforma Trabalhista como está e da Previdência me parecem expressar isso.

Enquanto a agenda proposta não for legitimada por canais reconhecidos em nossa democracia, estaremos a mercê do jogo de poder que, por sua vez, tem atuado em desconformidade com as regras. A elite política e econômica do país teme eleições devido ao ocorrido em 2014. Quem defende as eleições, também teme devido a decepção pós pleito de 2014 e, por isso, mesmo que sejam realizadas eleições diretas agora, o pós eleições pode estar comprometido.

Portanto, novas eleições diretas pode ser um primeiro passo para a estabilidade política, mas as instituições foram flexibilizadas pelo momento político de forma a descaracterizá-la e afogá-la na mediocridade da hermenêutica de ocasião. É por isso que novas eleições são desejáveis, mas novas regras são necessárias, afinal, se o novo pleito for chamado, será chamado pelas mesmas regras que elegeram os atuais políticos financiados pelos atuais empresários “donos do poder”.

*Crédito da foto Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil/Retirado da Internet.

Autor: Daniel Leão Bonatti
DLBONATTI@gmail.com

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