O primeiro caso notório do fenômeno “voto de protesto” na história do Brasil não teve nenhum ser humano como protagonista. Em 1959, nas eleições para a Câmara Municipal de São Paulo, o nome para vereador mais votado foi o de um rinoceronte, Cacareco.
A “nova vereadora” da cidade era um rinoceronte fêmea que havia sido emprestada pelo zoológico do Rio para o de São Paulo, e que quase que imediatamente caiu nas graças do povo paulistano.
A repercussão sobre Cacareco foi tamanha que Jânio Quadros, na época responsável pelo pedido de empréstimo, teria dito que o animal poderia ser um forte candidato ao Governo.
Acontece que não só Cacareco foi um nome cogitado como voto de protesto, como recebeu muitos votos. Na ocasião, o partido mais votado não chegou aos 95 mil votos, deixando claro a intenção por trás dos quase 100 mil votos no rinoceronte.
Na época, as eleições ainda eram realizadas através de cédulas de papel, onde cada eleitor escrevia seu voto e o colocava em uma urna.
Os votos em Cacareco no final das contas, foram contabilizados como nulos, dificultando o cálculo exato mas o que se sabe é que ficou em torno de 100 mil – tornando o animal o campeão de votos naquela eleição.
Repercussão da votação
O caso chegou a ser satirizado pelo escritor Stanislaw Ponte Preta no jornal Última Hora, ao dizer: “Diversos membros do PSP [partido político da época] andam rondando a jaula de Cacareco, para o colocarem no lugar de Adhemar de Barros”.
Apesar da tentativa de José Bonifácio Coutinho Nogueira, secretário da agricultura do estado na época, que tentou comprar Cacareco, o animal acabou retornando ao zoológico carioca dia 1º de outubro, alguns dias antes da eleição paulistana.
No carnaval de 1960, Cacareco surgiu como tema da marchinha “Cacareco é o maior”, de autoria de José Roy e Risadinha e posteriormente, interpretada por Risadinha.
Trecho da letra dizia: “Eu encontrei o Cacareco tomando chope com salsicha e rabanada/ Mas lá no bloco da vitória ele gritava “aqui Gerarda, aqui Gerarda”
Conheça Cacareco, o rinoceronte vereador
A rinoceronte Cacareco nasceu em cativeiro, no Rio de Janeiro. Em 1954, foi emprestada para a inauguração do Zoo de São Paulo, em 1958.
Na ocasião, 200 pessoas foram à cerimônia somente para ver o grande animal, que foi o destaque do evento.
Após a grande repercussão do caso envolvendo seu nome, Cacareco foi devolvida ao Zoológico do Rio em 1º de outubro de 1959, onde viveu até dezembro de 1962, quando morreu de nefrite aguda.
Seu esqueleto, atualmente, pode ser visto exposto no Museu de Anatomia da USP.
Por fim, Cacareco foi um dos mais famosos casos de voto de protesto ou voto nulo em massa da história da política brasileira, mas não foi o único.
Nas eleições de 1955, em Jaboatão, Pernambuco, a população votou em um bode malhado chamado “Cheiroso”.
Já em 1988, o povo carioca tentou eleger o macaco “Tião”, do partido Partido Bananista Brasileiro, que era fictício.
O último caso foi em 1996, na cidade de Pilar, em Alagoas, onde o bode “Frederico” recebeu muitos votos, porém infelizmente teve uma vida curta ao ser envenenado por algum inimigo político.
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[…] 400 mil pessoas – que queriam demonstrar uma enorme insatisfação política através do voto de protesto – votaram em Tião nas […]
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