A inovação dos processos não é vista apenas como uma necessidade das empresas privadas. Cada vez mais, os agentes públicos estão exigindo dos órgãos e empresas governamentais inovações para acompanhar os desenvolvimentos da sociedade. Entretanto, a estrutura do serviço público brasileiro, principalmente, a alta rotatividade dos cargos de gerência são entraves para a implantação de processos inovadores.
Como os serviços públicos não são voltados para o lucro, as inovações nesse setor podem ser aplicadas nas áreas de: gestão da inovação, atendimento ao cidadão, simplificação dos processos, avaliação de desempenho e planejamento organizacional.
A terceira edição do Manual de Oslo indica que a inovação pode acontecer em qualquer setor econômico, inclusive o setor público. Esse texto também afirma que pouco se sabe sobre inovações no setor público, dessa forma, muito trabalho precisa ser feito para coletar os dados necessários para criar um quadro de referência para o setor.
Os poucos dados são decorrentes da dificuldade de se inovar no serviço público, já que qualquer mudança envolve interesses de diversos setores políticos ligados aos órgãos e empresas estatais. Os projetos de inovação podem não se ajustar as ideias da nova diretoria e, assim, acabam sendo descartados antes de serem implantados.
A inovação para as empresas privadas é uma forma de se manter relevante no mercado. Entretanto, o setor público não conta com esse tipo de estímulo, sendo assim, a motivação das mudanças no setor público vem da sociedade que faz pressão para ser atendida com qualidade.
Os serviços públicos brasileiros são subfinanciados, dessa forma, para que uma inovação seja aplicada no setor é preciso contar com a participação do servidor público. Ele é a pessoa mais indicada para encontrar formas mais eficientes de realizar o seu trabalho e atender melhor a população.
Precisamos ter em mente que o conceito de inovação no setor público não envolve apenas a atualização dos equipamentos eletrônicos usados diariamente. Com o subfinanciamento do setor, o conceito de inovação que melhor se aplica é o seguinte: introdução intencional, dentro de uma organização ou de um setor, de ideias, processos, produtos ou procedimentos novos para a unidade, relevante de adoção e que visa gerar benefícios para o indivíduo, grupo, organização ou sociedade maior.
A inovação no setor público é o que mantém o Estado atualizado e capaz de atender, minimamente, as necessidades da sua população. O grande desafio é conseguir otimizar os poucos recursos.
As inovações do setor público devem priorizar a solução de problemas que melhorem a vida da população e que possam ser aplicados em qualquer ambiente. Entretanto, para que os órgãos públicos endossem os projetos de inovação é necessário que eles passem por um profundo processo de mudanças internas. Não apenas para estimular a criatividade dos seus servidores, mas para que as inovações tenham aplicação prática e não funcionem apenas como uma ferramenta de progressão de carreiras.
VanGundy classificou as barreiras para a inovação no setor público em cinco grandes categorias:
— Barreira Estrutural: excesso de formalização e centralização do poder de decisão. As atividades dos servidores são engessadas e seguem os padrões definidos por lei ou normas internas.
— Barreira Social e Política: se referre a interferência de forças e interesses sociais e políticos na organização. As decisões tomadas visam atender interesses de terceiros e não do público do órgão governamental.
— Barreiras processuais: dizer respeito as regulamentações e procedimentos internos que acabam inibindo a inovação por sua rigidez.
— Barreira de recursos: diz sobre a falta de recursos financeiros, de pessoal e tecnológico.
— Barreiras individuais ou atitudinais: estão relacionadas com a falta de interesse ou medo dos servidores de buscar a inovação
Para que os processos de inovação aconteçam no serviço público brasileiro, além de recursos, é preciso que os servidores estejam motivados a buscar melhores formas de realizar o seu trabalho.
Entretanto, para que os servidores se sintam motivados, é necessária uma mudança na cultura organizacional do setor público, principalmente, na comunicação entre os diferentes cargos hierárquicos. Além disso, os órgãos e instituições do governo precisam começar a olhar para o futuro e buscar maneiras para se adequar as necessidades da sociedade.
A pressão da sociedade para a melhoria dos serviços deve ser vista como uma cobrança, mas também como um gatilho para buscar novas maneiras de se fazer as coisas. Sendo assim, a inovação não é um processo individual, mas uma construção coletiva que envolve população, servidores e instituições do governo.
Para isso, os canais de comunicação devem ser abertos, as normas precisam ser flexibilizadas e as iniciativas de mudanças devem ser valorizadas e não consideradas uma fuga do modelo administrativo.
Fonte: Grupo Editores do Blog.