Nos últimos anos, o conceito de cidades de 15 minutos ganhou espaço no debate urbano. A ideia é simples: todas as pessoas devem conseguir acessar serviços essenciais em até 15 minutos, a pé, de bicicleta ou com transporte público. Para muitos, esse modelo representa uma mudança importante para melhorar a qualidade de vida, reduzir o uso de carros e fortalecer o comércio local. No entanto, transformar essa visão em realidade exige planejamento cuidadoso, investimento em infraestrutura e um olhar atento para a inclusão.
O desafio é grande, especialmente em municípios com estrutura deficiente ou grande dependência de automóveis. É aí que entra a importância da gestão pública e da atuação técnica dos auditores fiscais, prefeitos e demais servidores municipais. Essas lideranças são fundamentais para tirar do papel projetos que levem à construção de cidades inteligentes, onde o conceito de cidade de 15 minutos possa funcionar de maneira prática, segura e sustentável.
Planejamento urbano deve priorizar a mobilidade acessível
Para que as cidades de 15 minutos funcionem, é essencial garantir mobilidade para todos. Isso significa ruas seguras, calçadas acessíveis e transporte público de qualidade. Cidades inteligentes precisam considerar a realidade de idosos, pessoas com deficiência e moradores de áreas periféricas. Sem isso, o modelo se torna excludente. Um bom exemplo vem de Barcelona, onde pesquisadores analisaram a infraestrutura de calçadas e concluíram que a cidade ainda falha em atender quem tem mobilidade reduzida.
O conceito só será viável se o deslocamento sem carro for uma opção realista para a maioria. Isso requer investimentos em ciclovias protegidas, transporte público eficiente e bairros com escolas, mercados e postos de saúde próximos. A presença desses serviços em microhubs — núcleos locais com funções variadas — é uma das estratégias mais eficazes para alcançar esse objetivo.
Reaproveitamento de espaços urbanos acelera a transformação
Nem sempre é preciso começar do zero. Uma boa alternativa para implementar as cidades de 15 minutos é revitalizar áreas já existentes e subutilizadas. O projeto Ellinikon, em Atenas, é um exemplo disso. Um antigo aeroporto está sendo transformado em um grande parque urbano com moradias, comércios, serviços públicos e espaços culturais, tudo planejado para reduzir a necessidade de deslocamentos longos.
O reaproveitamento inteligente de terrenos também contribui para a sustentabilidade ambiental. Telhados verdes, jardins de chuva e o uso de materiais locais e reciclados fazem parte dessa nova abordagem. Cidades inteligentes precisam incorporar essas soluções para equilibrar desenvolvimento urbano e preservação ambiental.
Inclusão social precisa estar no centro do projeto
Um dos riscos do modelo das cidades de 15 minutos é a criação de áreas exclusivas para grupos de maior renda. Para evitar isso, gestores públicos devem garantir que os serviços estejam distribuídos de forma equitativa entre os bairros. É necessário pensar em políticas habitacionais que permitam que famílias de baixa renda também vivam próximas a esses núcleos de serviços.
Ao reduzir a dependência de veículos, a cidade também reduz custos para a população. Menos gasto com combustível, manutenção de carros e seguros representa mais renda disponível para as famílias. Isso mostra como as cidades de 15 minutos podem ser aliadas na redução das desigualdades, desde que sejam bem planejadas.