O desaparecer voluntário, chamado no Japão de johatsu, é um fenômeno cada vez mais presente. Apesar da ausência de dados oficiais do governo, estimativas apontam que entre 100 mil e 185 mil pessoas adotem essa prática por ano. Trata-se de um processo de abandono da vida anterior, sem deixar rastros. Isso inclui largar emprego, família e até identidade. O desaparecimento é possível devido à existência de serviços especializados, à estrutura urbana e ao uso consciente da internet.
A facilidade para desaparecer no Japão está ligada à legislação e à infraestrutura local. Não é crime sumir, e adultos não são obrigados a manter contato com familiares. Isso permite que muitos desapareçam sem gerar investigações. Empresas conhecidas como yonige-ya (“empresas de fuga noturna”) oferecem serviços que vão desde a mudança silenciosa até a reserva de novos alojamentos. Elas atuam principalmente à noite, para evitar atenção, e cobram valores entre 2 mil e 20 mil dólares, dependendo da complexidade da fuga.
Como funcionam os serviços que ajudam a desaparecer
Essas empresas operam com logística bem definida. Primeiro, o cliente entra em contato e explica a situação. Em seguida, é feita uma análise de riscos e preparação do plano de retirada. O serviço pode incluir transporte, hospedagem temporária, cancelamento de contratos e orientação sobre como evitar rastros digitais. Em geral, as mudanças são realizadas de madrugada, com veículos sem identificação, para evitar registros ou testemunhas.
Algumas companhias também ajudam o cliente a se reinserir em outro local. Elas indicam bairros onde é possível manter anonimato, fornecem suporte para encontrar empregos informais e orientam sobre abertura de contas bancárias sem levantar suspeitas. Tudo isso é feito dentro da legalidade, já que o desaparecimento, quando não está ligado a crimes, não infringe nenhuma lei.
Uso da internet e cuidados com rastros digitais
A internet pode ser aliada ou obstáculo para quem quer desaparecer. Por isso, os serviços especializados costumam orientar sobre o uso mínimo de aparelhos eletrônicos. O desligamento de contas em redes sociais, a troca de número de telefone e a desativação de cartões são etapas essenciais. Em alguns casos, o desaparecido passa a utilizar apenas dinheiro em espécie para não deixar registros bancários.
Além disso, muitos evitam usar transporte público com cartões recarregáveis, preferindo bilhetes avulsos. A geolocalização de celulares também é desativada. Com esses cuidados, é possível permanecer invisível por anos. O próprio desenho urbano das cidades japonesas, com bairros densos e de alta rotatividade, facilita a reintegração sem chamar atenção.